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Publicação: 19/09/2010 - Noelle Oliveira - Correio Braziliense
Não são apenas adultos frustrados que se entregam ao crack. Um dos moradores dos bueiros da QNN 3 é um menino de apenas 11 anos. A aparência do rosto, porém, esconde a pouca experiência. A face do pequeno Luís* está completamente destruída pela droga. Os olhos fundos, com olheiras marcadas e a pele queimada pelo sol, fazem-no parecer mais velho. O uso da droga estagnou seu crescimento. Pela estatura, ele pode ser confundido com uma criança de 7 anos. O garoto é o morador mais arredio do grupo e também o mais envolvido com as pedras. Quem visita o lugar, revela que é difícil vê-lo “limpo”. “Ele está o tempo todo drogado, não pode ver nada que rouba”, diz um frequentador da região. O pequeno Luís é também um dos mais famintos. Ele come três potes de sopa em minutos. Pega a comida e corre de volta para o bueiro. Franzino, nem precisa utilizar a entrada principal, consegue passar pelas frestas próximas ao asfalto.
Luís é de poucas palavras. Tem respiração difícil. É conhecido por cometer pequenos furtos na região. Para comprar a droga, tenta vender o que rouba. O pequeno é observado de perto por outro frequentador da região, João, 21 anos, também viciado. O jovem, porém, não mora no lugar. Vai apenas quando quer fumar crack. Consciente, ele sabe que precisa deixar o vício e sofre por se ver em meio aos usuários. “Tudo começou quando eu perdi o emprego. Vim para cá e gastei quase R$ 1 mil com as drogas que comprei. Caí nesse mundo”, revela. Influenciado por namoradas, rapidamente João se viu viciado. “Esses dias, deitado no sofá da sala, vi que a minha mãe me olhava e chorava. Não quero fazê-la sofrer, preciso de palavras, de alguém que me mande sair daqui”, diz.
Sem sonhos

A intenção do grupo é aumentar o trabalho para as cracolândias de Taguatinga, Samambaia e Plano Piloto.
Quando consegue resgatar alguém do vício, o grupo encaminha o usuário para clínicas de reabilitação em Brasília. “Mas temos o problema das crianças. Se elas me disserem que querem deixar aquele local vou ter que levá-las para a minha casa, porque no DF não há nenhum lugar para reabilitação infantil”, pondera. Todo o trabalho desenvolvido pelo grupo é feito com base em doações. Ao todo, 18 pessoas trabalham no projeto, que engloba a preparação e a distribuição das sopas .“Vamos até esses lugares para tentar conquistar a confiança das pessoas e tirá-las do vício. Mas para isso elas precisam querer”, conclui Luciano.
Violência assusta moradores
Além da falta de estrutura e de ventilação, os moradores do local também estão sujeitos a outro problema: a violência. Há duas semanas, um caminhão passou por cima da tampa de um dos bueiros que fica na ponta da rua. Com o peso do veículo, a estrutura de concreto se esfarelou. Um homem, que acabava de sair do lugar, por pouco não foi atropelado. A parte destruída serve agora de porta de entrada para o vão das residências, sem que os moradores precisem utilizar as entradas ao longo do meio fio.
Há uma semana, durante a madrugada, os moradores quase morreram queimados. Após uma briga com a companheira, um homem ateou fogo no lugar. As chamas deixaram o asfalto marcado, mas ninguém se feriu. A mulher envolvida na confusão, Adriana*, 24 anos, é usuária de crack e também mora no bueiro. Grávida de dois meses, ela ficou com os braços queimados após a confusão e conta, no entanto, outra versão para o ocorrido. Segundo ela, o fogo teria começado após um acidente quando mexia com Tinner. “Eu estava muito louca e coloquei fogo sem ver”, conta, revelando os efeitos do consumo do crack.
Magra, Adriana deixa o buraco por uma das aberturas no meio fio para tomar um pouco de sopa. Sob o efeito da droga, em um primeiro momento, ela não fala muito. Se contenta em pegar a comida e voltar para o seu esconderijo. Logo retorna e come mais uma vez. É difícil notar a barriga da gravidez. Já consciente, ela fala com alegria sobre o fato de ser mãe pela segunda vez. “Já tenho uma filha, de dois anos. Ela morava comigo, mas depois que vim para cá ela ficou com a minha mãe, no Paranoá”, revela. Antes de se tornar uma viciada, Adriana trabalhava como cabeleireira e manicure na cidade onde vivia com a mãe. “Eu tenho é muita cliente, você é que não sabe”, diz.
Agora, Adriana só vê a filha quando resolve visitar a família. “Quando a saudade aperta, eu vou. Também pego o cartão da minha mãe e compro carne de sol. Aí trago pra cá e peço para alguém do comércio fazer para mim. Eu mesma não tenho dinheiro”, conta. O corpo e as roupas são completamente tomados pela fuligem dos carros, que passam próximos ao bueiro em que vive, o último do lado direito da via. Uma aliança na mão direita revela um compromisso amoroso conflituoso. “Pastor, reza aqui pela gente, para pararmos de brigar. Nós nos separamos toda semana”, pede a usuária ao coordenador da distribuição de sopas, pastor Luciano Gonzaga. O companheiro de Adriana também é viciado em crack e se mantém pouco tempo consciente, até reaparecer drogado ainda naquela mesma noite.

Crimes ligados ao vício
Estimativa da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSPDF) revelou que 27% dos crimes registrados nas delegacias, no primeiro trimestre de 2010, estão associados ao tráfico de drogas, principalmente ao crack
Continua...
Olá, blogueiro (a),
ResponderExcluirObrigado por seu apoio na luta contra o crack. O consumo aumentou e é preciso união de todos. O crack traz malefícios ao usuário, família e sociedade e atinge a todos independentemente do sexo, cor e classe social.
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Ministério da Saúde